Desabamento da mina da Braskem abriria cratera na região para onde escoaria a água da lagoa, que entraria em contato com a camada de sal no subsolo, salinizando a água doce. Pesca do molusco é a principal fonte de renda para centenas de famílias. Cerca de 400 pessoas no entorno da lagoa Mundaú dependem da pesca do sururu para sobreviver
Ailton Cruz/Gazeta de Alagoas
A possibilidade de desabamento de uma das minas da Braskem, empresa responsável pela mineração que afetou cinco bairros de Maceió, pode provocar o aumento de sal na lagoa Mundaú, desestabilizar o meio ambiente e extinguir espécies nativas, como o sururu, uma das principais iguarias da culinária alagoana.
Compartilhe no WhatsApp
Compartilhe no Telegram
O alerta é da bióloga Nídia Fabré, professora da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), especialista em ecossistemas aquáticos marinhos e continentais. Em entrevista ao g1, ela explicou que a vida no ecossistema da região das minas se dá graças ao equilíbrio entre a água doce e a água salgada, do mar, mantendo uma grande diversidade de peixes, caranguejos e moluscos.
O afundamento da mina 18, que tem parte localizada sob a lagoa e outra parte sob o continente, pode abrir uma enorme cratera. Quando isso acontecer, a água da lagoa seria escoada para dentro do buraco e entraria em contato com o sal no subsolo, o que acabaria aumento os níveis de sal na água da lagoa entorno da área afetada. Apesar de o sururu se adaptar a ambientes com variações de salinidade, ele precisa de um equilíbrio entre a água doce e a salgada.
“Com a hiper salinização prolongada da lagoa, essa espécie pode vir a ser extirpada localmente porque haverá perda de habitat, perda do equilíbrio ecossistêmico, além de mudança local do clima, devastação da paisagem e impacto socioeconômico das comunidades de pescadores e pescadoras e suas cadeias produtivas associadas”, avalia a bióloga.
Desde que o alerta máximo foi emitido pela Prefeitura de Maceió, embarcações de todos os tipos foram proibidas de trafegar em um raio de 1 km de extensão na lagoa Mundaú. Consequentemente, a pesca também foi suspensa.
Entenda risco de colapso de mina da Braskem em Maceió
LEIA TAMBÉM:
Defesa Civil diz que há ‘risco iminente de colapso’ em mina da Braskem
Entenda o risco de colapso das minas da Braskem em Maceió
Hospital é evacuado por risco de afundamento de terra em bairro vizinho
Segundo a Superintendência Federal da Pesca e Aquicultura em Alagoas, cerca de 400 pessoas têm a pesca do sururu na lagoa como principal fonte de renda. Além do molusco, que é Patrimônio Imaterial de Alagoas, outras espécies serão afetadas com o afundamento da mina da Braskem.
Durante o verão, os peixes marinhos que suportam água salobra entram na lagoa. A variação cria uma dinâmica de entrada e saída dos peixes principalmente de importância comercial, como carapeba, camurim, tainha, curimã, pescada branca, pescada amarela, xaréus, mororó e bagres.
“A dimensão pode ser catastrófica no sentido de que estamos frente a um problema geotécnico, com a desestabilização da fratura das camadas por cima da camada de sal, a qual funciona como um cinturão protetor”, alertou a especialista.
Sobre a possibilidade de recuperação da lagoa, Nídia Fabré disse que não há como precisar, mas afirmou que a lagoa pode voltar a ter vida desde que sejam feitos investimentos que sejam feitos futuramente, com planos integrados de recuperação ambiental.
A professora reforça que a lagoa já é um sistema que vem sendo prejudicado ambientalmente ao longo dos anos com assoreamento histórico, contaminação, com despejo de esgoto, retirada da mata ciliar, retirada dos mangues.
“Com o afundamento, a recuperação pode acontecer, mas nunca será a mesma lagoa. A restauração somente seria viável com o investimento pesado em planos integrados de recuperação ambiental”, explicou a pesquisadora.
Área sobre a mina da Braskem que pode colapsar no Mutange
Defesa Civil de Alagoas
Assista aos vídeos mais recentes do g1 AL
Veja mais notícias da região no g1 AL
Sururu pode ser extinto da lagoa Mundaú após colapso de mina em Maceió, diz especialista
Bookmark the permalink.