Alagoano conquista 1º lugar na Pós-graduação em Linguística da UFRJ com projeto sobre sotaque carioca


Pedro Henrique Sousa é morador da zona rural de Arapiraca. Ele quer entender a pronúncia carioca do “t” e do “d” e como o cérebro reage aos sons diferentes. Pedro Henrique Sousa dos Santos, Arapiraca, Ufal, Alagoas
Arquivo pessoal
O alagoano de Arapiraca, cidade no agreste do estado, Pedro Henrique Sousa dos Santos, conquistou o primeiro lugar no Programa de Pós-graduação em Linguística da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) defendendo um projeto que busca entender como os nativos do Rio reagem ao som de /t/ e /d/ diante de /i/ quando é falado de forma diferente.
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Pedro é egresso do curso de Letras da Universidade Federal de Alagoas (Ufal) em Arapiraca. Ele obteve nota máxima no mestrado mais concorrido do país na área de linguística. O alagoano quer relacionar as áreas de sociolinguística e neurociência da linguagem durante o estímulo de um fenômeno chamado palatalização, que é a modificação do som sofrido pelas consoantes e vogais.
Para comprovar sua tese, Pedro vai precisar utilizar um eletroencefalograma disponível no laboratório da UFRJ para captar ondas elétricas durante sua pesquisa.
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“Quero analisar como as pessoas reagem a uma variedade diferente da sua e se há algum tipo de assinatura elétrica no cérebro correspondente a essa percepção. Então, por exemplo, quando um carioca me ouve falar ‘tia’, ‘dia’, acontece alguma coisa no cérebro deles, alguma assinatura elétrica específica para isso? A minha hipótese é de que talvez seja uma onda elétrica que é chamada de MMN e ela acontece de 80 a 150 milissegundos”, explica.
As aulas na UFRJ começam em março e Pedro vai se mudar para o Rio. Ele é filho de um agricultor e de uma cozinheira e mora no sítio Lagoa Cavada, em uma rua que não tem nem CEP.
“Eu tinha um sonho, quando entrei na graduação, de ir pra UFRJ estudar com a professora Aniela Improta França [futura orientadora]. Mas também tinha o sonho de estudar no MIT, que é o Instituto de Tecnologias de Massachusetts, porque lá tem um pessoal bem legal que estuda linguagem. Eu tenho muita vontade de fazer doutorado fora, estudar com outras pessoas e também eu gostaria de expandir mais o conhecimento da área para pessoas de outras áreas”, planeja.
Pedro conta que sua conquista, onde passou por uma arguição do tema para uma banca rigorosa e de sotaques variados, chamou atenção.
“Rodou os corredores na UFRJ. Eu era ‘o menino de fora que tirou 10 em linguística’”, disse Pedro, que gabaritou em todas as etapas.
Agora, o menino que até ano passado nunca tinha saído de Arapiraca, já vislumbra uma carreira de sucesso nos grandes centros, falando “tia” e “dia” como um bom alagoano.
‘Minha avó tá com raiva porque eu vou embora’
A partida não será fácil. Pedro conta que a família ainda não conseguem aceitar que ele vai ter que ir embora.
“Eu acho que meus pais estão no estado de negação de que eu vou embora. Minha avó tá com raiva porque eu vou embora de Arapiraca. Eu não sei muito fazer as coisas sozinho. Eu sou bem matuto, só sei mais estudar! Viver sozinho é um negócio que estou aprendendo ainda”, brinca Pedro.
O interiorano conta que apesar das dificuldades de morar em uma localidade rural, no interior do estado, sempre enxergou os estudos como uma oportunidade. Estudou a vida inteira em escolas públicas e sempre foi notado pelos professores.
No Ensino Médio ele ganhou uma bolsa para estudar em um curso de redação preparatório para o Enem. Pedro tirou nota suficiente para passar em Medicina, curso com maior ponto de corte do Sisu, e decidiu pela graduação em Letras.
“Eu tentei entrar em tudo quanto é canto de projetos. Eu fiz três iniciações científicas com a professora Elyne Vitório, que foi uma pessoa essencial na minha carreira acadêmica, que me ajudou a enxergar melhor o mundo científico e também a ter práticas mais assertivas. Fiz monitoria, fiz iniciação à docência, e participei de um monte de eventos, então foi assim, uma jornada acadêmica que eu considero muito rica”, relembra.
O alagoano ressalta que seu caminho para conquistar seu espaço hoje, foi bem natural, sempre seguindo os passos oferecidos pela Universidade. “ Eu gosto imensamente da Ufal porque tem muitos programas que ajudam os estudantes a se desenvolverem e eu tenho certeza que se eu não tivesse esse auxílio dos meus professores do curso, eu não teria conseguido essa aprovação e não estaria indo para o Rio estudar”.
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