‘Buraco que está abaixo do solo é o buraco que está na nossa vida’: os relatos dos moradores retirados das casas após alerta de colapso de mina em Maceió


O Fantástico deste domingo (3) repercute o risco de colapso de uma mina subterrânea calculado centímetro a centímetro, que tem deixado Maceió em alerta. População de Maceió acompanha aflita deslizamento de mina
O Fantástico deste domingo (3) repercute o risco de colapso de uma mina subterrânea calculado centímetro a centímetro, que tem deixado Maceió em alerta. A população acompanha aflita. Em apenas cinco dias, o chão já cedeu 1,70 metros.
Segundo o último boletim da Defesa Civil, divulgado na tarde deste domingo, o afundamento nas últimas 24 horas diminuiu pra sete centímetros, o que não alivia em nada a tensão dos moradores.
A família de Dona Sônia, de 64 anos, e outras 22 foram retiradas de casa às pressas, sob ordem da Justiça Federal. Ela saiu na madrugada da quinta-feira (30), depois que dezenas de tremores de terra alertaram para o risco de colapso da mina de sal. No sábado (2), voltou para pegar alguns pertences e está hospedada na casa de parentes.
“Não aguento ficar aqui. Esse buraco que está abaixo do solo é o buraco que está na nossa vida. existe uma cratera, um vazio, porque aqui eu vivia com os meus filhos ao meu redor, todos moravam perto. Desde 2018, eu sofro”, relata uma idosa que teve que deixar sua casa.
Os relatos dos moradores retirados das casas após alerta de colapso de mina em Maceió
Reprodução/TV Globo
A região, às margens da “Lagoa Mundaú”, tem 35 minas subterrâneas de extração de sal-gema. Este é um dos cinco bairros que estão no foco do poder público.
“As que possuíam já esse processo, elas passaram por esse sistema de preenchimento, só que essa aqui, a número 18, ela não chegou a tempo ainda e essa, justamente, está provocando esse movimento”, diz o agente da Defesa Civil.
A mina de número 18 esta semana apresentou o risco de colapsar, de acordo com a Defesa Civil. Ela tem 500 mil metros cúbicos e fica muito perto de outras duas.
“Tem ali um risco potencial de isso acontecer”, destaca.
Esta semana, por precaução, um hospital também foi evacuado. E o Governo Federal reconheceu o decreto de situação de emergência da Prefeitura de Maceió.
os relatos dos moradores retirados das casas após alerta de colapso de mina em Maceió
Reprodução/TV Globo
Um estudo do Serviço Geológico do Brasil concluiu que esse processo de mineração interferiu diretamente na estrutura da região. Que a desestabilização do solo é proveniente das cavidades de extração do “sal-gema”.
Entenda a situação
Toda a região começou a ser explorada na década de 1960 pela Salgema Indústrias Químicas, incorporada pela Braskem em 2002. Desde 2019, a atividade está parada.
Durante mais de 40 anos, as 35 minas retiraram de profundidades – que chegavam a até 1.200 metros – a matéria-prima usada na produção de cloro, soda e p-v-c. Os tubos gigantes perfuraram várias camadas geológicas e levavam água, que era usada para dissolver o sal-gema, puxado depois para a superfície.
Em março de 2018, um tremor de magnitude 2.4 agravou rachaduras que tinham surgido no mês anterior. Dali em diante, afundamentos foram constantes.
Em 2019, foram emitidas as primeiras ordens de evacuação. E a Braskem fechou os poços de extração de sal-gema.
O Ministério Público afirma que a elaboração de plano de fechamento de mina, e as medidas de prevenção para desocupação dessa região foram adotadas. Foi firmado o primeiro acordo no início de 2020. E que a desocupação aconteceu ao longo desses anos 2020 – 2021 – 2022, as pessoas também passam pelo seus fluxos de indenização.
Desde então, segundo a Defesa Civil, mais de 14 mil imóveis precisaram ser desocupados, afetando cerca de 60 mil pessoas. A Braskem fala em 40 mil atingidos. Casas, comércios, igrejas, tudo foi abandonado.
Os relatos dos moradores retirados das casas após alerta de colapso de mina em Maceió
Reprodução/TV Globo
O que dizem as autoridades?
“Tudo isso é definido por estudos técnicos que são feitos pela Defesa Civil e apresentado o mapa para avaliação dos órgãos de controle. A Prefeitura tem cobrado a celeridade dessas indenizações do dado material causado à cidade. Nós estamos buscando essa reparação e responsabilização da Braskem”, afirma o prefeito de Maceió, João Henrique Caldas (PL).
A Braskem acompanha a região, com sensores especiais e 504 câmeras. O Fantástico teve acesso à sala de monitoramento da mineradora. Um funcionário tem que reportar qualquer movimentação fora do esperado, em tempo real, à Prefeitura.
“Desde 2019, a Braskem vem implementando ações, apoio psicológico, cuidado dos animais, zelo das áreas ocupadas, e a decisão em relação à realocação das pessoas de indenização é um processo que depende do mapa construído pela Defesa Civil. Nesse momento, todas as residências que têm que receber uma proposta de indenização já receberam a sua proposta, mas 97% das propostas foram aceitas baseado na negociação direta. Há um pagamento adicional também por danos morais e +10% em relação ao custo do imóvel”, afirma o diretor de Comunicação e Pessoas da Braskem, Marcelo Arantes.
Mina com risco de colapso em Maceió: Braskem acompanha a região, com sensores especiais e 504 câmeras
Reprodução/TV Globo
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