Famílias de bairros vizinhos da área de mina com risco de colapsar em Maceió aguardam decisão final sobre realocação: ‘Não durmo’


Justiça determinou retirada de 5 mil famílias de áreas afetadas pela mineração. Braskem diz que a Defesa Civil Municipal não recomenda realocação. Moradora de área de risco de desabamento em Maceió está em abrigo e se preocupa com parentes que não deixaram a região
A Justiça Federal determinou na última quinta-feira (30) que 5 mil famílias sejam retiradas das áreas afetadas pela mineração em Maceió. Enquanto aguardam por uma decisão final sobre a permanência deles nesses locais, os moradores passam dias e noites com medo de viver próximo ao bairro que tem uma mina da Braskem com risco de colapsar a qualquer momento.
Moradora do Bebedouro há 32 anos, Luzia foi de forma voluntária para um abrigo provisório em uma escola pública, mas parte da família ficou no bairro, incluindo a filha com seis crianças pequenas. Ela conta que não consegue dormir pensando na situação dos parentes que ficaram no local, principalmente dos netos.
“Seis filhos pequenos. Tudo miudinho. Não pode nem correr. Um não pode nem ajudar o outro no braço. Eu fico pensando. Não durmo. Fico perdendo o sono por causa dos meninos, disse.
Em nota, a Braskem informou que foi notificada da decisão da Justiça sobre a inclusão de mais um trecho na área de risco, mas afirmou que a Defesa Civil de Maceió não recomenda a desocupação imediata dos moradores por não haver risco às moradias nessas novas áreas de monitoramento.
Expedita mora no Bom Parto. A casa dela tem rachaduras por toda parte e está com o piso cedendo. Ela aguarda com medo enquanto não há outra decisão sobre sua moradia e a de seus vizinhos.
“No meu caso eu passo o dia aqui cozinhando e lavando a roupa, eu entro e só Jesus pra me segurar, porque não tem como sair, porque a qualquer momento essa casa desabar eu morro. Eles têm que tomar uma posição sobre a gente”, disse a dona de casa.
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Segundo o mais recente boletim da Defesa Civil de Maceió, da noite de sábado (2), a velocidade do deslocamento de terra na área da mina diminuiu, mas a situação ainda é de alerta máximo. Desde o dia 28 de novembro, o solo da mina afundou 1,61 cm.
O afundamento do solo de Maceió começou em 2018 e foi provocado pela extração de sal-gema pela Braskem durante décadas. Desde então, a situação se agravou e afetou cinco bairros, forçando 55 mil famílias a deixarem suas casas.
Uma das ações recomendadas para estabilizar o solo foi o preenchimento das 35 minas que a Braskem utilizava para extração de sal-gema. O processo estava sendo realizado desde 2019, mas a situação da mina de número 18, na área do antigo campo do CSA, no Mutange, se agravou no fim de novembro deste ano.
Mais de cinco tremores de terra ocorreram na região. Maceió está em alerta máximo devido à ameaça da mina colapsar.
Atualização da Braskem: 02/12, às 14h
A área de risco do mapa definido pela Defesa Civil municipal está 100% desocupada. Os moradores de 23 imóveis que ainda resistiam em permanecer nessa área de risco foram realocados pela Defesa Civil, por determinação judicial.
Importante lembrar que a área de resguardo no bairro do Mutange onde fica a mina 18, cuja realocação preventiva foi iniciada pela Braskem em dezembro de 2019, está desocupada, sem nenhuma pessoa residindo na região desde abril de 2020.
Os dados atuais de monitoramento demonstram que a acomodação do solo segue concentrada na área dessa mina e que essa acomodação poderá se desenvolver de duas maneiras: um cenário é o de acomodação gradual até a estabilização; o segundo é o de uma possível acomodação abrupta. Todos os dados colhidos estão sendo compartilhados em tempo real com as autoridades, com quem a Braskem vem trabalhando em estreita colaboração.
A Braskem continua mobilizada e monitorando a situação da mina 18, localizada no bairro do Mutange.
Situação das cavidades
A extração de sal-gema em Maceió foi totalmente encerrada em maio de 2019, e a Braskem vem adotando as medidas para o fechamento definitivo dos poços de sal, conforme plano apresentado às autoridades e aprovado pela Agência Nacional de Mineração (ANM). Esse plano registra 70% de avanço nas ações, e a conclusão dos trabalhos está prevista para meados de 2025.
Das 35 cavidades, 9 receberam a recomendação de preenchimento com areia. Destas, 5 tiveram o preenchimento concluído, em outras 3 os trabalhos estão em andamento e 1 já está pressurizada, indicando não ser mais necessário o preenchimento com areia.
Além dessas, em outras 5 cavidades foi confirmado o status de autopreenchimento.
As demais 21 cavidades estão sendo tamponadas e/ou monitoradas, sendo que em 7 delas o trabalho já foi concluído. As atividades para preenchimento da cavidade 18 estavam em andamento e foram suspensas preventivamente devido à movimentação atípica no solo.
Todo o trabalho segue prazos pactuados no âmbito do plano de fechamento, que é regulamente reavaliado com a ANM.
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Arte/g1
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