Moradores de bairro de Maceió afetado pelo afundamento do solo relatam transtornos por demolição de imóveis desocupados na região


Famílias que ainda não entraram em acordo com a Braskem sobre as indenizações permanecem em áreas condenadas pela Defesa Civil e assistem das suas casas à demolição de imóveis vizinhos. Moradores reclamam de transtorno provocado por tratores em demolição no Bebedouro
As famílias que ainda residem em Bebedouro, um dos cinco bairros de Maceió afetados pelo afundamento do solo causado por décadas de mineração de sal-gema na região, amargam transtornos devido ao processo de demolição dos imóveis já desocupados e que estão sob risco iminente de desabamento.
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O bairro está inserido no mapa de realocação, que apontou a necessidade de desocupação de mais de 14 mil imóveis em toda a área afetada. A Braskem, empresa responsável pela mineração na região, conta com um Programa de Compensação Financeira que, até o mês de abril, já apresentou 18.967 propostas às famílias que perderam seus imóveis. Destas, 17.937 foram aceitas.
Contudo, algumas famílias ainda questionam o valor oferecido pela mineradora e permanecem nas áreas condenadas pela Defesa Civil, já que o solo instável põe a estrutura dos imóveis em risco.
Cerca de 33 famílias continuam morando em Bebedouro mesmo com risco de desabamento
Quem ficou em Bebedouro e ainda negocia o valor da indenização precisa lidar com problemas decorrentes das demolições, como poeira em excesso, barulho de máquinas e até falta de água.
A consultora de vendas Priscila Farias teme que a trepidação do solo causada pela movimentação de máquinas pesadas na rua cause algum problema estrutural em sua casa. “É muito perto, poucos metros. O medo que dá é que a nossa casa comece a ter rachaduras, tem que ver os abalos aqui.Nos ofereceram para receber o auxílio [aluguel], mas não queremos viver de aluguel, queremos uma casa para viver e que possamos receber um preço justo por ela”.
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A casa de Priscila fica na Rua Vereador Jorge Omena. Ela diz que vários canos de água foram atingidos pelas máquinas usadas nas demolições, o que comprometeu o fornecimento de água para a região.
“As máquinas quebram os canos e tem vazamento. Vários. Eles danificam e fica por isso mesmo. A BRK [concessionária de água] já veio aqui, mas fala que tem muitos pontos com vazamento. E é responsabilidade da Braskem, pois são as máquinas deles que estão causando isso”, questiona Priscila.
Consultora de vendas diz que parte do bairro Bebedouro fica sem água durante semanas por causa dos canos quebrados pelas máquinas de demolição
Carol Sanchez/TV Gazeta
No bairro de Bebedouro Priscila construiu as suas melhores lembranças. Ao lado da família ela vive o drama de habitar um bairro condenado às ruínas.
“Nasci e me criei aqui. Hoje moro com meus filhos, minha mãe e os meus dois filhos. Não posso dizer que estamos resistindo, pois isso dá ideia de não querer sair. Acho que quem está resistindo em pagar o que realmente a minha casa vale é a Braskem. Só queremos o que é justo”, desabafou.
Jorge Pontual é outro morador da Rua Vereador Jorge Omena. Ele conta que o muro da casa da sua filha foi derrubado indevidamente no processo de demolição, já que a casa dela ainda não tinha sido desocupada (assista no vídeo mais abaixo).
“Eles derrubaram o muro, depois disseram que foi por engano. Levei dez dias para colocar o muro de volta e reconstrui ele”, disse Jorge.
O que dizem a Braskem e a BRK?
A Braskem disse que o trabalho de demolição nos Flexais foi feito por uma empresa especializada, que realizou análises técnicas e seguiu todos os protocolos de segurança necessários para que os imóveis próximos não fossem impactados.
Segundo a empresa, a demolição dos imóveis, na área de acesso aos Flexais, foi determinada pela Defesa Civil e contribuem para a melhoria nas condições de segurança da população local, já que as edificações estavam desocupadas e apresentavam problemas estruturais.
A mineradora disse também que as demolições dos imóveis na região foram concluídas na última quinta-feira (25) e o trabalho agora é de retirada dos materiais resultantes, com máquinas funcionando entre 8h e 17h.
Em relação à falta d’água, a Braskem disse que na segunda (29), por volta das 18h, uma máquina que fazia a remoção de materiais acabou atingindo uma tubulação na Rua Tobias Barreto. Com isso, a BRK foi acionada para a adoção das medidas necessárias, e a tubulação foi restabelecida no dia seguinte.
Em relação à moradora citada na reportagem, o PCF aguarda resposta formal sobre a última proposta apresentada, após três pedidos de reanálise e o Parecer Técnico Independente. O parecer indicou que o laudo particular de avaliação imobiliária apresentado pela moradora não atendia aos requisitos exigidos pela ABNT e que o valor estimado do imóvel não estava coerente com o mercado. É importante ressaltar que todos os auxílios disponibilizados pelo programa para a realocação da família foram ofertados.
A empresa disse ainda que os moradores foram previamente informados sobre as demolições na área de acesso aos Flexais e dos possíveis incômodos que essas obras poderiam trazer. O PCF disponibilizou hospedagem provisória, mas todos os auxílios foram recusados.
Sobre outras situações envolvendo abastecimento de água e energia, a Braskem orientou a comunidade a procurar as respectivas empresas concessionárias dos serviços.
Em relação ao muro derrubado indevidamente, a Braskem disse que, no dia 5 de maio, durante processo de inspeção nos imóveis desocupados localizados na área de risco, a mineradora realizou um procedimento de acesso a uma casa no Flexal de Baixo. Para isso, foi necessário fazer uma abertura no muro, o que causou preocupação ao morador que reside no mesmo terreno onde está a edificação que precisava ser inspecionada.
A Braskem disse que o morador recebeu os esclarecimentos necessários, o trabalho foi imediatamente paralisado e o muro foi reconstruído com todos os custos pagos pela empresa. Disse ainda que também manteve um esquema de vigilância no local, até a conclusão das obras.
A BRK, concessionária responsável pelo abastecimento na Grande Maceió, informou que equipes técnicas foram direcionadas para atender as demandas registradas nos canais de atendimento oficiais e já estão atuando no local para solucionar os vazamentos identificados.
A concessionária reforça que a população deve registrar as ocorrências pelo 0800 771 0001, que funciona 24 horas, para que seja possível identificar e atender às solicitações com agilidade.
Da casa de Priscila dá para ver as áreas que já foram demolidas
Carol Sanches/TV Gazeta
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