Thierry Alves concluiu o ensino fundamental e já está na reta final para concluir o ensino médio. Ele realiza pela primeira vez a prova do Enem nesta terça e na quarta-feira. Thierry sonha em trabalhar na área do direito criminal
Michelle Farias/g1
Atrás das grades existem vidas interrompidas, sonhos que só se transformaram em sonhos depois da privação da liberdade. É o caso do detento Thierry Alves, de 27 anos. Dentro do presídio ele tomou gosto pela leitura e agora está na reta final para concluir o ensino médio e fazer o Enem pela primeira vez.
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O alagoano sonha em ser advogado e quer trabalhar com o direito criminal. As provas do Enem para pessoas privadas de liberdade acontecem nesta terça-feira (12) e na quarta-feira (13) em todo o país.
Sonho interrompido
Thierry era um menino que frequentava a escola, mas que em algum ponto de sua adolescência optou pelo caminho mais curto, onde o dinheiro entrava com mais facilidade.
Ele abandonou os estudos e se dedicou ao mundo do crime. Foi preso duas vezes, sendo a primeira delas em 2023. Condenado, ele hoje lamenta as escolhas erradas feitas no passado.
“Me arrependo demais. Eu já fiz muita coisa errada, mas todos os dias eu peço a Deus para me ajudar. Que me dê mais oportunidades para sair daqui com uma vida nova e transformada”, disse.
Casado e com dois filhos, o jovem alagoano não pôde ver o nascimento da sua primeira filha. “Eu só a vejo uma vez no mês. É sempre uma novidade. Toda vez ela tem sempre uma novidade e eu quero estar presente na vida dela”, disse.
O interesse pela leitura e religião começou dentro do presídio, quando foi colocado no módulo destinado a pessoas evangélicas. Depois, ele mostrou interesse em ingressar no Núcleo Ressocializador, do próprio sistema prisional, onde o detento precisa estudar e trabalhar para conseguir remissão da pena.
“Foi no Cyridião que eu conclui o ensino fundamental e fiz dois cursos, um de padeiro e outro de pedreiro de alvenaria. Trabalho todos os dias e estudo, mas não apenas pela remissão da pena, mas porque eu vi a oportunidade de transformar a minha vida através dos livros”.
Thierry dez curso de padeiro dentro do presídio
Michelle Farias/g1
E depois de adquirir o hábito pela leitura, Thyerri criou um poema que fala sobre os sonhos, mesmo estando atrás das grades.
Além das grades existe aquele ser humano
Que cometido algum ato errado ou fato passado ele está pagando
Sou mais um reeducando buscando uma vida normal
Se ressocializando pra ter uma inclusão social
Terminamos os estudos, ingressar numa faculdade, trabalhar
Recebemos salário
Tudo isso é possível mesmo estando atrás das grades
Aqui existe saudades
Existe sonhos interrompidos
Futuro cheio de esperança
Mesmo com planos tão corrompidos, longe dos amigos, longe da família, mas me mantenho de pé em meio a tudo isso
Nessa trajetória eu tenho fé
Tem pessoas que acreditavam em mim
Sim eu acredito em mim!
É o começo de uma nova história. De uma nova vida. Isso aqui não é o fim.
Com o estudo em dia, Thyerri lança o olhar para o futuro, projeta um diploma e sonha com a construção de boas lembranças e dias melhores.
“Os meus filhos vão crescer e eu hoje sei que preciso dar o melhor a eles, e o melhor sou eu ressocializado e com estudo. Assim eu sei que consigo dar bons estudos e que nem de longe eles vão passar pelo que passei. É vida nova. Eu quero ser exemplo para toda a minha família e me tornar o primeiro a ter o curso superior”, disse.
Livros que libertam: o passaporte para um futuro melhor
Histórias em quadrinhos está entre os livros favoritos dele
Michelle Farias/g1
É através da educação que o sistema prisional de Alagoas tenta ressocializar os detentos. Com o projeto Livros que Libertam, o custodiado pode adquirir conhecimento com a remissão da pena.
A cada livro lido, é reduzido quatro dias da pena. Em um ano, o detento pode ler 12 exemplares, um por mês, chegando a diminuição de 48 dias da sentença após um ano de participação no projeto.
“Os custodiados pegam o livro, leem e precisam fazer uma resenha ao final de cada leitura. Com isso, conseguimos que eles aprendam e que fixem o que leram. O Thyerri é um exemplo. O vocabulário dele está cada vez mais rico”, disse a psicóloga Marina Miranda.
Só a biblioteca do Núcleo tem mais de 6 mil livros. O projeto conta com mais de 4 mil custodiados.
“O hábito da leitura traz benefícios mentais e comportamentais para o reeducando, além de proporcionar a remissão da pena. Isso colabora, de forma efetiva, para o melhor funcionamento do sistema prisional”, disse o secretário de Ressocialização e Inclusão Social Diogo Teixeira.
A psicóloga do Núcleo Marina Miranda Fellippo diz que conversa sempre com os detentos sobre a carreira e os sonhos.
“Os que demonstram interesse, perguntam por profissões, a gente tenta fazer o máximo para ajudar. Trazemos palestras, mostramos as grades dos cursos. Tudo para que eles possam entender e ver se realmente é aquela profissão que eles vão seguir quando deixarem o sistema. Não apenas que seja uma redução da pena”, afirmou.
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