Área de mina em Maceió tem mais um tremor de terra, mas velocidade da movimentação do solo cai


Abalo de magnitude 0,89 ocorreu a cerca de 300 metros de profundidade. Deslocamento do solo passou de 1 cm/hora para 0,7 cm/hora, segundo a Defesa Civil de Maceió. Mina 18, Mutange, Maceió, Braskem, afundamento do solo
Gazeta de Alagoas
Menos de 12 horas após o tremor de terra de magnitude 0,39 registrado na área da mina que corre risco de colapsar no bairro do Mutange, em Maceió, um novo abalo sísmico aconteceu no mesmo local, na madrugada deste sábado (2), a uma profundidade de 300 metros. Segundo a Defesa Civil Municipal, esse evento foi um pouco mais forte, de magnitude 0,89.
Apesar do tremor, a velocidade da movimentação do solo caiu, passando de 1 cm/hora para 0,7 cm/hora. Nas últimas 24 horas, houve um deslocamento de terra de 13 cm, bem menor que os 62,4 cm registrados nos dias anteriores, desde que foi emitido o alerta de colapso na mina de extração de sal-gema da Braskem.
O monitoramento é constante na região, por causa do risco de a mina implodir e abrir uma cratera da largura do estádio do Maracanã. Desde que foi identificado que a instabilidade no solo em Maceió foi causada pela mineração, em 2018, mais de 14 mil imóveis em cinco bairros já foram desocupados na região.
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O bairro do Mutange já havia sido completamente evacuado desde que o problema começou. Nos bairros vizinhos também houve evacuação, mas não completamente. Algumas dezenas de famílias ainda permaneciam no Bom Parto, Bebedouro e Pinheiro. Mas a possibilidade do desastre fez muita gente sair voluntariamente e até um hospital transferiu todos os seus pacientes.
A Braskem, empresa responsável pela mineração, informou que continua monitorando a situação da mina 18 e que “continua tomando todas as medidas cabíveis para minimização do impacto de possíveis ocorrências” e segue colaborando com as autoridades competentes.
Mina de sal-gema da Braskem cede quase 2 metros em 72 horas
Arte/g1
Entenda a situação:
A mineração em Maceió começou na década de 1970, com a Salgema Indústrias Químicas S/A, que depois passou a se chamar Braskem. A extração de sal-gema, minério utilizado na fabricação de soda cáustica e PVC, tinha autorização do poder público.
Em fevereiro de 2018, surgiram as primeiras rachaduras no bairro do Pinheiro, uma delas com 280 metros de extensão. No mês seguinte, um tremor de magnitude 2,5 foi registrado, o que agravou as rachaduras e crateras no solo, provocando danos irreversíveis nos imóveis.
Somente um ano depois o Serviço Geológico do Brasil (CPRM), órgão ligado ao governo federal, confirmou que a mineração provocou a instabilidade no solo.
Em junho de 2019 foram emitidas as primeiras ordens de evacuação para moradores do Pinheiro, Mutange e Bebedouro. Com o problema se agravando, a ordem também foi ampliada para parte do Bom Parto e do Farol.
Desde então, mais de 14 mil imóveis precisaram ser desocupados na região, afetando cerca de 55 mil pessoas e transformando áreas antes habitadas em bairros fantasmas.
Depois que a mineração foi apontada como a principal causa da instabilidade do solo, um intenso trabalho foi iniciado pela Braskem para fechamento e estabilização de 35 minas na região do Mutange e de Bebedouro, com profundidade média de 886 metros.
Contudo, após 5 tremores de terra somente no mês de novembro, a Defesa Civil de Maceió alertou para o “risco de colapso em uma das minas” próximo da lagoa Mundaú, a de número 18, o que poderia provocar o surgimento de uma imensa cratera.
O professor da UFAL Abel Galindo, engenheiro civil com mestrado em geotecnia pela UFPB, avalia que há uma grande probabilidade de o desabamento da mina 18 afetar também duas minas vizinhas, formando uma cratera em que caberia o estádio do Maracanã.
Com o desabamento, a água da lagoa, terra e detritos seriam escoados para dentro da cratera, provocando a formação de um lago com profundidade de 8 a 10 metros. Segundo a Defesa Civil, esse fenômeno tornaria a água da lagoa salgada e toda a área de mangue na região seria impactada “de forma bastante trágica”.
O Serviço Geológico do Brasil enviou uma nova equipe a Maceió para avaliar o problema, que é monitorado também pela Defesa Civil Nacional.
A Justiça Federal determinou a retirada de pouco mais de 20 famílias que ainda vivem nas áreas de risco nos bairros do Bom Parto. Embora não haja ordem para evacuação no Pinheiro, um hospital no bairro transferiu todos os seus pacientes para outras unidades de saúde.
Quem mora no Pinheiro, bairro vizinho, não tem indicação para evacuação, mas tem deixado suas casas por precaução. O empresário Thiago Monteiro mora em um dos prédios da rua José de Alencar e deixou o imóvel assim que recebeu a primeira mensagem da Defesa Civil.
“Eu estava no trabalho e recebi o SMS. Como meu filho já está de férias, ele estava em casa só com a funcionária. Resolvi pegá-lo e vim para casa da minha mãe. Fiquei com receio por conta de ser no Mutange, que fica próximo. Se o colapso for grande pode desestruturar uma boa parte do terreno aqui na região, não sabemos. Se acontece algo, não dá pra chegar tão rápido em casa. E o trânsito já está bem complicado”, disse ele.
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