PF apreende em endereço de ex-assessor de Lira documentos com valores e nome ‘Arthur’

Anotações foram encontradas em endereços de Luciano Cavalcante, alvo de buscas na operação Hefesto, que apura desvios em compra de kits de robótica. Após identificação do material, PF decidiu enviar caso para o STF. PF envia a STF inquérito que envolve auxiliar de Lira
A Polícia Federal apreendeu documentos endereçados ao presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), além de anotações manuscritas com valores e referência ao nome “Arthur”, durante a Operação Hefesto, que investiga fraudes na compra de kits de robótica para escolas em municípios de Alagoas (veja detalhes abaixo).
A informação foi revelada pela Revista “Piauí” e pela “Folha de São Paulo”. A TV Globo também teve acesso ao relatório da corporação.
Após a identificação do material, a PF decidiu que vai enviar o caso para o Supremo Tribunal Federal diante da possibilidade de as investigações atingirem políticos com foro na Corte.
Em nota, a assessoria de imprensa de Arthur Lira afirmou que “toda movimentação financeira e pagamentos de despesas do presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, seja realizada por ele e, às vezes, por sua assessoria, tem origem nos seus ganhos como agropecuarista e da remuneração como deputado federal”.
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Anotações com valores
As anotações foram apreendidas pelos investigadores em endereços de Luciano Cavalcante – ex-assessor do presidente da Câmara – e do motorista Wanderson Ribeiro Josino de Jesus. A PF vê “fortes indicativos” de que o motorista seja “laranja” de Cavalcante. Os dois foram alvo de mandados de busca e apreensão.
As anotações encontradas com Wanderson estavam dentro de um carro e faziam referências a pagamentos entre abril e maio.
As duas folhas trazem 11 citações a “Arthur”, que somam R$ 265 mil. São referências como:
“100.000 Arthur”;
“30.000 Arthur”;
“R$ 3.652 Hotel Emiliano Arthur”;
“R$ 6.026.87 carro Arthur”.
Incluindo os valores que não trazem Arthur ao lado, a lista tem transações que somam R$ 496 mil.
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Conclusões da PF
No relatório, a PF afirma que o material apreendido na busca e apreensão “corrobora hipótese criminal” da atuação dos investigados nos delitos de lavagem de dinheiro e participação em Organização Criminosa. Lira não é investigado no caso.
“A grande quantia de dinheiro em espécie apreendida com Wanderson, totalizando R$ 150.200,00(cento e cinquenta mil e duzentos reais), somado às diversas anotações de pagamentos, que ao que tudo indica eram também feitas em espécie, representam fortes indícios da prática de layering, configurando o tipo previsto no artigo 1°, inciso I, da Lei n° 9.613/98 (lavagem de dinheiro)”, diz o relatório.
Segundo a PF, “as diversas atividades desempenhadas por Wanderson a mando de Luciano, além da aparente disposição por parte deste último de bem registrado em nome da esposa de Wanderson, denotam a existência de uma divisão clara de tarefas com a finalidade da prática de lavagem de dinheiro”.
Os investigadores dizem que chama atenção, no caso do motorista, o fato de terem “encontrado diversos sinais de patrimônio não condizendo com o emprego formal do mesmo”.
“Existem fortes indicativos de que WANDERSON seja ‘laranja’ consciente de LUCIANO FERREIRA CAVALCANTE e GLAUCIA MARIA DE VASCONCELOS, além de executar diversas tarefas a mando de LUCIANO, notadamente pagamentos”, diz a PF.
Os investigadores afirmam que, na casa de Cavalcante foram apreendidas duas agendas com manuscritos e “documentos diversos relacionados à pessoa de Arthur César Pereira de Lira (encontrados na gaveta)”.
Entre eles: “Documento intitulado Passagens Família Arthur” e “Correspondência da Santa Casa destinada a Arthur Cesar Pereira de Lira”.
Operação Hefesto
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As investigações da Operação Hefesto começaram em 2022, após denúncia de que a empresa Megalic, de Maceió, cobrou R$ 14 mil por kit vendido a prefeituras alagoanas. A companhia citada teria adquirido cada unidade por R$ 2,7 mil de um fornecedor no interior de São Paulo.
A PF acredita que a licitação para compra dos kits de robótica incluía, de forma ilegal, restrições para direcionar os contratos a uma única empresa. Eram especificações técnicas restritivas que resultavam no cerceamento à participação plena de outros licitantes.
Com isso, o grupo responsável pelas supostas fraudes teria conseguido desviar R$ 8,1 milhões do Fundo Nacional do Desenvolvimento da Educação (FNDE), entre os anos de 2019 e 2022.
No dia 1º de junho, data da operação, os policiais cumpriram 27 mandados de busca e apreensão e dois de prisão, no Distrito Federal, em Alagoas, e em outros três estados.
Após a ação, Luciano Cavalcante foi exonerado do cargo de assessor que exercia na liderança do PP, partido de Arthur Lira.
Já o presidente da Câmara disse, à época, que “cada um é responsável pelo seu CPF nesta terra e neste país”.
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