Alagoana busca rede de apoio para tratar depressão na cidade mais populosa do Brasil: ‘A vida em São Paulo é muito solitária’


Há quase 17 anos fora de casa, Maria Simone dos Santos, de 38 anos, desenvolveu crises depressivas e precisou buscar ajuda médica. No mês da campanha Setembro Amarelo, g1 AL traz série de reportagens sobre a saúde mental. Maria Simone dos Santos, 38 anos
Arquivo pessoal
Solidão. Victor Hugo (1802-1885), poeta e romancista francês, disse que “o inferno está contido nesta palavra”. A alagoana Maria Simone dos Santos, 38, diz que carrega essa sensação desde que migrou para São Paulo, há quase 17 anos. Tanto tempo depois, ainda se sente desconectada e sozinha mesmo vivendo na cidade mais populosa do Brasil.
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No mês da campanha Setembro Amarelo, criada para a prevenção ao suicídio e promoção dos cuidados com a saúde mental, o g1 AL publica uma série de reportagens sobre pessoas que enfrentaram ou ainda enfrentam episódios traumáticos, mas que conseguiram se recuperar com ajuda profissional e apoio psicológico.
“A vida em São Paulo é muito solitária. Essa cidade acaba engolindo a gente. Como diz o ditado, ‘é uma terra que o filho chora e a mãe não vê’. Enfrentei muitos obstáculos, sinto uma enorme falta de pertencimento”, afirmou Simone.
Nos primeiros anos na nova cidade, trabalhou como empregada doméstica, e atualmente é proprietária de um salão de beleza na Zona Oeste, onde vive. A decisão de mudar de estado foi motivada pela esperança de alcançar estabilidade financeira e proporcionar algum conforto à sua família, mas acabou desenvolvendo crises depressivas e precisou buscar ajuda médica.
“Minha vida em Maceió foi extremamente difícil, com poucas oportunidades. Trabalhei desde os 14 anos, mas meus patrões nunca registraram minha carteira de trabalho. Quando cheguei a São Paulo, não tinha nenhum registro. Logo nos primeiros dias, percebi que minha vida estava passando por mudanças, tanto positivas quanto negativas”, relatou Simone.
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Ao perceber e identificar todos esses desconfortos, ela resolveu procurar um clínico geral, que a encaminhou diretamente para um psicólogo na Unidade Básica de Saúde (UBS) do seu bairro.
“É tanta confusão que passa na cabeça da gente, que às vezes nem sabemos do que se trata. Também guardamos traumas e mágoas do passado. Procurei um clínico geral para entender o que estava acontecendo. Ele me encaminhou para a psicóloga, mas resolvi participar de um grupo de apoio à saúde mental, com outros pacientes que enfrentam problemas parecidos”, disse.
De acordo com o psicólogo Diógenes Pereira, a solidão é amplamente considerada uma das sensações mais angustiantes que o ser humano pode experimentar, mesmo quando ele está cercado por outras pessoas. Essa sensação de vazio pode desencadear algumas doenças somáticas ou a própria depressão, por isso, é importante sempre buscar acompanhamento profissional.
“É algo devastador para o emocional humano porque pode gerar uma sensação de desespero. Naturalmente, o vazio aumenta. É como se a pessoa fosse perdendo a própria cor”, explicou o especialista.
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Maria Simone dos Santos, 38 anos
Arquivo pessoal
Períodos de transição trazem consigo uma série de adaptações em níveis físico e emocional. Simone conta que, além da solidão em São Paulo, ainda trazia consigo cicatrizes de batalhas passadas, como a saída da casa dos pais para um casamento aos 15 anos, que culminou na “solidão a dois”, e, posteriormente, um relacionamento abusivo.
Longe de casa, contava com a internet para encurtar a distância da família, mas redes sociais e aplicativos de mensagem não bastam. “Minha maior dificuldade, também, é ficar longe deles. Sempre que consigo visitar Maceió, recarrego minhas energias”, disse Simone.
Com os encontros nos grupos de saúde mental, que são abertos para usuários cadastrados no Sistema Único de Saúde (SUS), entendeu que essa rede de apoio é importante, sobretudo, para mulheres.
“Somos encorajadas a mostrar que estamos sempre bem, que devemos engolir o choro e carregar todo o peso do mundo nas costas, mas ninguém precisa ser forte o tempo inteiro”, refletiu.
O trabalho no salão de beleza é uma maneira de ajudar a outras mulheres que sofrem das mesmas angústias. “Quando uma mulher escolhe a tinta de um esmalte ou decide mudar o corte de cabelo, ela está cuidando de si mesma. Trabalhar a autoestima é um dos pontos mais importantes para que recuperemos nossa plena confiança”, afirmou a alagoana.
Prevenção ao suicídio
A campanha “Setembro Amarelo” é uma iniciativa do Centro de Valorização da Vida (CVV), da Associação Brasileira de Psiquiatria e do Conselho Federal de Medicina. O CVV faz um apoio emocional e preventivo do suicídio pelo número 188.
Na rede pública, a indicação é procurar os Centros de Apoio Psicossocial (CAPS) do Sistema Único de Saúde (SUS). Por lá, é possível marcar uma consulta com um psiquiatra ou psicólogo.
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